
As lágrimas escorriam pelo meu rosto, os olhos ardiam, o cheiro forte da cebola estava impregnado em minhas mãos, pensei que ardido é este descascar, parece ser tão simples, porém difícil. Fiz então uma metáfora com o processo psicoterapêutico. Quando começamos a retirar nossas capas de proteção, na busca do entendimento de nossas emoções e comportamentos, ocasionalmente as lágrimas escorrem, o grito sufocado e a dor contida emergem.
Quanto mais rastreamos nossos avessos, melhor assimilamos que são inúmeras as camadas que estruturam o ser que somos. Freud pontua: “Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais: somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos sem querer”.
É na terapia que começamos a decifrar o enigma, quando damos um zoom nos sentimentos e acessamos memórias traumáticas, as quais limitaram nossas vidas, percebemos tendências de repetirmos erros, escolhas nocivas. Detectamos o vício pelo sofrimento, que nos impulsiona a ampliar o martírio. Constatamos o quanto é torturante a alteração de hábitos tóxicos. A transmutação de padrões comportamentais implica detectarmos os gatilhos e o comprometimento com nós mesmos.
Entendemos que não podemos entrar no autoengano e a necessidade de nos despir das falsas desculpas, da vitimização, de descortinar o nosso verdadeiro potencial, acreditar em nossa capacidade de realização e transformação. Por mais ardido que possa ser este processamento, é por meio dele que efetuamos a lapidação do nosso ser, evidenciando o brilho do diamante que somos.
Claudete de Morais
CRP 12/01167
Doutoranda em Psicologia Clínica
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